Carga de doenças crônicas e Covid-19 podem frear aumento na expectativa de vida
A exposição cada vez maior da população a fatores de risco para doenças crônicas e para Covid-19, combinada com o aumento no número mortes por doenças cardiovasculares em alguns países, sugere que o mundo pode estar se aproximando de um ponto de inflexão no aumento da expectativa de vida.
Essa é uma das conclusões do estudo Carga Global de Doenças (Global Burden of Disease Study – GBD), publicado em em outubro de 2020 em uma edição especial do periódico científico The Lancet.
Segundo os pesquisadores do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), entidade responsável pelo estudo, a interação da Covid-19 com o aumento global de doenças crônicas e fatores de risco relacionados vem alimentando as mortes por Covid-19 e representa um dos principais desafios para os profissionais de saúde nos próximos anos.
O panorama traçado pelo estudo é uma crise global de doenças crônicas gerada pela falha dos sistemas de saúde em conter o aumento de fatores de risco altamente evitáveis – como hipertensão, alto nível de açúcar no sangue, alto índice de massa corporal (IMC) e colesterol elevado, por exemplo.
É um quadro que vem se consolidando ao longo nos últimos 30 anos e que, além de aumentar as mortes por doenças crônicas, acabou tornando a população de muitos países altamente vulnerável a emergências agudas de saúde, como a Covid-19.
Continue lendo para saber mais sobre a pesquisa e conhecer os dados específicos referentes à realidade brasileira.
Ações preventivas ainda são insuficientes
A avaliação dos pesquisadores é de que a promessa de prevenção de doenças por meio de ações ou incentivos para a promoção de hábitos saudáveis não está sendo realizada ao redor do mundo.
Veja o que disse o coordenador do estudo:
“A maioria desses fatores de risco é evitável e tratável, e enfrentá-los trará enormes benefícios sociais e econômicos. Não estamos conseguindo mudar comportamentos prejudiciais à saúde, especialmente aqueles relacionados à qualidade da dieta, ingestão calórica e atividade física, em parte devido à atenção inadequada às políticas e ao financiamento da saúde pública e da pesquisa comportamental”.
Christopher Murray, diretor do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME).
Ele define a atual pandemia de Covid-19 como uma “emergência de saúde aguda-sobre-crônica” e afirma que ignorar a cronicidade dessa crise pode estar colocando o futuro da humanidade em risco.
Segundo o professor Murray, com a aceleração do envelhecimento populacional em diversos países, a demanda por serviços de saúde para lidar com quadros de incapacidade e condições crônicas exigirão um esforço crescente para obter financiamento e melhores dados que permitam aos gestores de saúde lidar com essa nova realidade.
O fato é que as doenças crônicas não transmissíveis desempenharam um papel crítico nas mais de 1 milhão de mortes causadas pelo coronavírus em todo o mundo e continuarão a moldar a saúde em todos os países mesmo depois da pandemia arrefecer.
Segundo o professor Murray, à medida que se discute como regenerar os sistemas de saúde no rastro da pandemia, os dados levantados pelo estudo da Carga Global de Doenças oferecem um meio de entender onde estão as maiores necessidades de cada país.
Menos mortes precoces, mais deficiências ao longo da vida
Os autores do estudo GBD alertam que os sistemas de saúde dos países de média e baixa renda estão mal equipados não apenas para combater a disseminação da Covid-19, mas também para lidar com a crescente carga de doenças crônicas que afetam suas populações.
Se em 1990 elas representavam um terço da carga geral de doenças, em 2019 já eram dois terços.
E embora esses mesmos países tenham apresentado uma queda substancial nas mortes causadas por doenças infecciosas nesse período, as mortes por doenças crônicas não transmissíveis não param de subir.
Embora globalmente a expectativa de vida saudável tenha aumentado em mais de 6,5 anos nos últimos 30 anos, em 198 dos 204 países avaliados ela não aumentou tanto quanto a expectativa de vida geral.
Isso indica que as pessoas estão vivendo mais anos com problemas de saúde.
Tal situação fez com que a deficiência, em vez da morte precoce, ocupasse uma parcela cada vez maior da carga global de doenças no período, passando de 21% da carga total em 1990 para mais de 34% em 2019.
É preciso conter fatores de risco críticos
Segundo os dados do estudo GBD, entre 1990 e 2019 a exposição da população a fatores de risco críticos aumentou mais de 0,5% ao ano em todo o mundo, um ritmo considerado preocupante pelos pesquisadores.
O maior impacto cumulativo na saúde mundial vem do aumento notável dos riscos metabólicos, que aumentaram 1,5% ao ano desde 2010.
Coletivamente, os riscos metabólicos (que incluem IMC alto, alto teor de açúcar no sangue, hipertensão e colesterol) foram responsáveis por quase 20% da perda total de saúde em todo o mundo em 2019. Trinta anos antes, esse índice era de apenas 10,4%.
Eles também são responsáveis por um grande número de mortes em todo o mundo — com a hipertensão contribuindo para uma em cada cinco mortes (quase 11 milhões) em 2019, alto teor de açúcar no sangue (6,5 milhões de mortes), IMC elevado (5 milhões) e colesterol alto ( 4,4 milhões).
O estudo também revelou que o impacto dos fatores de risco varia amplamente entre as regiões.
Em grande parte da América Latina, Ásia e Europa, por exemplo, a hipertensão, alto teor de açúcar no sangue, IMC elevado e uso de tabaco são os principais responsáveis pelos problemas de saúde mais prevalentes na população.
Veja a seguir alguns dados levantados pelo estudo que tratam especificamente da carga de doenças na população brasileira.
Principais causas de morte e fatores de risco no Brasil
Entre outros dados específicos referentes à saúde no Brasil, o estudo GBD verificou as principais causas de morte no país nos últimos dez anos, abrangendo desde doenças transmissíveis e não transmissíveis até mortes decorrentes de acidentes e ferimentos.
As doenças cardíacas e cerebrovasculares seguem como as principais causadoras de óbitos entre a população brasileira, com as infecções respiratórias inferiores em terceiro lugar.
Com um avanço de 28,2% em uma década, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) assume o quarto lugar, ultrapassando a violência interpessoal (que aumentou somente 5,4%).
As doenças que mais avançaram no período foram o mal de Alzheimer (49,3%), a doença renal crônica (41,4%) e o diabetes (33,6%).
As únicas causas de morte que apresentaram queda no número de casos foram os acidentes de trânsito (-6,9%) e os transtornos neonatais (-41,5%).
No gráfico abaixo você confere as 10 principais causas do total de mortes em 2019 e a variação percentual de 2009-2019:
Quanto aos principais fatores de risco que afetam a população brasileira, o estudo aponta uma queda notável na desnutrição, que passou da primeira para a sétima posição na lista, com uma queda de 36,3%.
Em compensação, observou-se um aumento de 27,5% no IMC elevado, que passou da quarta para a primeira posição na lista de fatores de risco, seguido pela pressão arterial elevada e pelo tabagismo.
Veja a seguir mais detalhes sobre a evolução dos fatores de risco no Brasil na última década:
Entre em contato
Solicite uma demonstração ou deixe sua mensagem
Ficou com dúvida sobre o Previva?