O impacto da Covid-19 nos beneficiários de planos de saúde

Descrever o perfil socio­demográfico dos beneficiários dos planos de saúde brasileiros e identificar os principais sintomas de saúde dessa população no primeiro ano da pandemia de Covid-19. 

Esse é o objetivo de um estudo feito pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), que analisa os microdados levantados por uma edição especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Covid-19) realizada entre maio e novembro de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A pesquisa estimou o número de pessoas com sintomas associados à síndrome gripal e monitorou os impactos da pandemia no mercado de trabalho brasileiro.

A partir desses resultados, os técnicos do IESS selecionaram dados específicos para o estudo publicado em agosto de 2021, que levantou alguns pontos importantes para auxiliar os gestores de operadoras de saúde no planejamento, monitora­mento e conhecimento das estatísticas disponíveis até o momento. 

Veja a seguir alguns dos resultados desse estudo.

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Perfil dos usuários da saúde suplementar

De acordo com os resultados da pesquisa do IBGE, em novembro de 2020, cerca de 27% da população (58 milhões de pessoas) tinha algum tipo de plano de saúde.

Em contrapartida, 73% dos brasileiros (154 milhões de pessoas) não tinham acesso à saúde suplementar, recorrendo ao SUS ou pagando serviços particulares do próprio bolso. 

Entre aqueles que declararam ter um plano de assistência médico-hospitalar, a pesquisa levantou o seguinte perfil:

  • Quanto ao sexo, 52% dos beneficiários eram do sexo feminino e 48% do masculino; 
  • Quanto à idade, 25% estavam na faixa de 0 a 19 anos, 31% de 20 a 39 anos, 26% de 40 a 59 anos, 14% de 60 a 79 anos e 3% com 80 anos ou mais;
  • Quanto à localização, 32% residiam em São Paulo, 11% em Minas Gerais e 10% no Rio de Janeiro (o que indica que esses três estados possuem mais da metade dos vínculos). 

Impacto da Covid-19 nos usuários de planos de saúde

O estudo do IESS também analisou o impacto da pandemia de Covid-19 entre os beneficiários das operadoras de saúde.

Do total de usuários dos planos, 317 mil tiveram algum sintoma conjugado de síndrome gripal com suspeita de associação à Covid-19. 

Entre os sintomáticos, 256 mil relataram perda de olfato ou paladar, 108 mil apresentaram tosse, febre e dificuldade de respirar e 77 mil tiveram tosse, febre e dor no peito. 

Até novembro de 2020, um total de 13 milhões de beneficiários haviam feito algum teste para saber se foram infectados pelo novo coronavírus. 

Entre os testes disponíveis nos planos de saúde, o mais utilizado foi o SWAB, sendo aplicado 6,7 milhões de vezes com 1,8 milhões de resultados positivos. Isso representa 26% do total de beneficiários positivados. 

Em segundo lugar vem o exame de sangue com furo no dedo, com 4,8 milhões de testes realizados e 635 mil positivos (13%).

Em seguida está o exame com coleta de sangue venoso, que teve 3,9 milhões de testes e 829 mil positivos (21%).

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Presença de comorbidades entre os beneficiários

Outro dado importante levantado pela PNAD Covid-19 e destacado no estudo do IESS é a presença de comorbidades entre os usuários de planos de saúde. 

Em novembro de 2020, um total de 15 milhões de beneficiários relataram ser portadores de alguma comorbidade. 

As mais frequentes foram:

  • Hipertensão, com 8 milhões de casos;
  • Doenças pulmonares, com 4 milhões;
  • Diabetes, com 3 milhões;
  • Depressão, com 2 milhões; 
  • Doenças do coração, com 2 milhões;
  • Câncer, com 924 mil casos.

É preciso lembrar que um beneficiário pode ter mais de uma doença ou fatores de risco ao mesmo tempo . 

Outro dado relevante é que a proporção de indivíduos com doenças crônicas e fatores de risco foi mais alta entre os usuários de plano de saúde do que entre os não-usuários.

Fatores socioeconômicos e testagem

Ao traçar o perfil socioeconômico dos usuários de serviços de saúde no Brasil, a PNAD Covid-19 permitiu fazer uma relação entre esses dados e a taxa de testagem para o coronavírus. 

Um dos padrões observados envolve o nível de escolaridade

Tanto entre usuários de planos de saúde quanto entre não-usuários, percebeu-se que quanto maior a escolarização, maior era o percentual de testes realizados.

Considerando o total da população, apenas 7,3% das pessoas sem instrução ou com fundamental incompleto disseram ter feito algum teste para detectar a doença.

Entre os indivíduos com ensino médio completo e superior incompleto o índice foi de 17%, chegando a 28% entre aqueles com superior completo ou pós-graduação. 

Quando se avalia a amostragem por faixa etária, dois grupos ficaram empatados em primeiro lugar, ambos com um percentual de testagem de 19%: as pessoas de 30 a 39 anos e as pessoas de 40 a 49 anos. 

Em seguida vêm a faixa etária de 50 a 59, com 16% de indivíduos testados entre maio e novembro de 2020.

No estudo do IESS, os autores ressaltam que as taxas sempre foram maiores entre os usuários de plano de saúde.

Conclusões do estudo

No que se refere à área de saúde, o estudo do IESS concluiu que o primeiro ano de pandemia acelerou uma série de transformações e a adoção de novos comportamentos que, em condições“normais”, levariam muito mais tempo para serem implementadas. 

Entre elas estão mudanças nos hábitos de higiene, adiamento de consultas e diversos procedimentos eletivos, com a redução das idas a hospitais e prontos-socorros.

Apesar de estarmos passando por um momento de estresse para o segmento, a análise do IESS aponta também para dados positivos, como o avanço nas iniciativas de telemedicina e telemonitoramento e o aumento nas ações de incentivo para a adoção de hábitos saudáveis.

Na conclusão do documento, os autores afirmam que o estudo é importante não apenas para identificar grupos de risco para a evolução de casos graves de Covid-19, mas também para atualizar os gestores sobre a importância de conhecer o perfil epidemiológico dos beneficiários e manter uma agenda de atenção e promoção da saúde. 

Enquanto alguns fatores de risco para Covid-19 (como sexo, idade, etnia e genética) não são modificáveis, há diversos outros que podem ser minimizados com ações preventivas, como obesidade, diabetes, hipertensão, consumo de álcool, estresse e sedentarismo.

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